Um mês especial para nosso grupo que, de uma vez só, se debruçou em dois clássico: "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, e "O Casamento", de Nelson Rodrigues. Imagine como ficou nossas cabeças depois dessas duas leituras?
Por Karoline Frederico

[foto oficial: Aline, Amanda, Cind, Graci, Ju, Karol, Renata, Taís e Thai] Dois livros, dois encontros. Foi um abril especial, em que o nosso encontro presencial aconteceu na Livraria LDM, nossa parceira de livros e incentivos a clubes de leitura, no qual conversamos sobre "Madame Bovary". Outro, mais especial ainda, que ocorreu em formato online para falar de "O Casamento". Contamos com a ilustre presença de um especialista (e apaixonado) em Nelson Rodrigues, o ator Nilton Bicudo. Na resenha desse mês, farei um mix dos dois livros que, claro, foram feitos uma para o outro. "Madame Bovary" é a prova de que certos livros precisam de releituras, e para tal a maturidade é quando devemos reler algumas obras primas da literatura. Quando adolescente tive o primeiro contato com a personagem Emma, achei o repertório, perdoe-me a palavra, "descarado", como pode uma mulher casada viver de forma furtiva com outros homens na cara do marido trabalhador, esforçado e dedicado. Assim, ao passar das décadas reli, e os personagens ganharam outra conotação]ao para mim, que agora estou madura, casada e com um filho.
O amor, conforme acreditava, devia chegar de repente, com grandes tumultos e fulgurações – furacão dos céus que desaba sobre a vida, transtorna-a, arranca as vontades como folhas e arrasta o coração inteiro para o abismo - Gustave Flaubert
O livro fala de um casamento, mas em seu contexto giram diversas situações nas entrelinhas, que nos permite analisar que, mesmo o livro tendo sido escrito em séculos passados, não estamos distantes da trama onde traição, cobiça, subserviência, interesse e depressão ainda nos rodeiam. Assim como em muitos casamentos, Emma, bonita, inteligente e ambiciosa, casa-se com um médico, Charles Bovary, que era viúvo e nas idas e vindas a casa da família se apaixona por ela. Pronto, fato consumado e assim o casamento deles inicia, e também uma trama de dar um no na nossa cabeça, surpreendendo aqueles que acham que o amor se constrói com o convívio.
A protagonista do livro mostra o contrário, que precisamos enxergar às pessoas pela ótica real e não pelas nossas expectativas. Emma é interesseira, sagaz e capaz de qualquer coisa para ascender socialmente, mas a sua união com um médico de uma pequena cidade não permitiu que ela, uma garota do interior, pudesse viver e ascender socialmente em uma grande cidade. Mas, até que ponto somos capazes de realizar os nossos sonhos e desejos?
O amor normal é triste e doente. Doente, não. Mas é triste, o amor normal é triste - Nelson Rodrigues
Flaubert em sua obra prima escrita em 1857, em um estilo Realista, escola que sucede o Romantismo, quebra todos os paradigmas da moça recatada e subserviente e nos joga nas mãos a Emma, goste ou não dela, mas essa personagem nos deixa uma lição, perseverança, mas calma, não estou aqui como advogada do diabo, jamais, mesmo porque ela é capaz de tudo para se satisfazer, desde trair o marido a dar golpe na mercearia atrás de luxo e pompa, ainda tem a questão da maternidade mal resolvida, uma história triste de abandono.
Ainda na temática do casamento temos na nossa literatura um livro que é um soco no estômago, "Casamento", de Nelson Rodrigues. Escrito em 1966, eu me atrevo a dizer que este livro não é para todos.

É preciso estar com a mente preparada para um estilo único de escrita de um ex- jornalista que vivia dentro de uma delegacia e que enveredou para o teatro. O livro "O Casamento" nos mostra os bastidores de uma família de classe média alta, que vive em uma sociedade hipócrita e que nega de forma estarrecedora o homossexualismo. Os personagens s]ao em sua maioria de caráter duvidoso, sempre com interesses pessoais, além de segredos subversivos. Na trama Glorinha, filha caçula de Eudoxia e Sabino Uchoa, um empresário do Rio de Janeiro, vai se casar com Teófilo. Então está dada a largada para uma sucessão de fatos extremamente perturbadores, pois, o ginecologista de Glorinha, Dr. Camarinha descobre que o noivo teve um caso com o seu funcionário e conta para Sabino, que entra em desespero, mas mantem a informação em segredo, o que gera uma onda de lembranças e traz à tona assuntos como incesto, infidelidade, interesse, assassinatos, machismo, homofobia, inveja, paranóias e tudo isso sobre uma ótica moralista por parte do autor, que não perde a oportunidade de mostrar as mazelas da nossa sociedade com muita pornografia. E o que tem em comum entre os livros "Madame Bovary" e o "Casamento"?
Eles possuem uma relação temática em relação aos conflitos e expectativas envolvidos no casamento. Ambos abordam a pressão social para se casar e manter um casamento socialmente aceito, bem como a dificuldade de lidar com conflitos e insatisfações dentro do matrimônio. "Madame Bovary" é um retrato da infelicidade conjugal de Emma Bovary, que busca desesperadamente a realização de uma vida glamorosa através de relacionamentos extraconjugais que fracassam. "O Casamento", por sua vez, aborda o processo de degradação social, e a busca por um parceiro como uma necessidade de aceitação pela sociedade, além da complexidade e desafio do relacionamento amoroso e do preconceito. Dois encontros! Dois livros! Duas oportunidades de construir novas formas de pensar!
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