Hoje somos 4 mulheres com um mundo de coisas a pensar sobre "O Problema da História Única", de Chimamanda Adiche. Por Thaiane Machado

[foto oficial: Ju, Renata, Adriana, e Thai]
Eu já tinha tido algumas tentativas frustradas de organizar um Clube do Livro...e quantas não foram! A vontade veio de um filme bem bobo, mas gostosinho. "O Clube de Leitura de Jane Austen" (2007) conta a história de cinco mulheres e um homem que lêem e discutem a obra dessa autora do século XIX. O que me chamou a atenção nesse filme foi como as personagens mostravam um processo de evolução a cada encontro, a cada discussão.
Foi na semana anterior do ano acabar em que eu e Renata confraternizávamos o nosso ano (um rito que segue a todo dezembro desde que lembro de nos cruzarmos nessa vida). Até que: "vamos fazer um clube do livro? Eu e tu? Assim a gente tem um bom motivo para se ver todo mês" - Thaiane Machado
Escolhi a primeira lista de livros e marcamos o nosso primeiro encontro para março. Nesse tempo, Renata trouxe mais três pessoas para esse grupo: Adriana e Taís (que não pode estar), parceiras de trabalho, e sua cunhada Ju. Dia 20/03 foi o nosso debut. Começamos bem com um livrinho pequeno e extremamente perturbador da Chimamanda Adiche, "O perigo de uma história única".
SOBRE O LIVRO
Chimamanda dispensa apresentações (principalmente por mim que sou fã!). As meninas não conheciam a autora e foi esse o motivo da indicação, mas também foi pelo quanto esse livro é significante para mim. Como em tão poucas linhas ele é capaz de nos fazer pensar em cosias tão óbvias e estruturais da nossa sociedade. O livro é uma tradução de uma palestra da autora no TED Talk, em 2009 (ainda é possível ver nesse link), em que ela conta sobre a sua surpresa em saber como os americanos criavam narrativas sobre o fato de ela ser nigeriana.
Anos depois, pensei nisso quando saí da Nigéria para fazer faculdade nos Estados Unidos. Eu tinha dezenove anos. Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando respondi que a língua oficial da Nigéria era o inglês. Também perguntou se podia ouvir o que chamou de minha “música tribal”, e ficou muito decepcionada quando mostrei minha fita da Mariah Carey. Ela também presumiu que eu não sabia como usar um fogão - Chimamanda.
Esse fio condutor traz a visão de Chimamanda sobre como nós acreditamos em histórias únicas e o quanto elas acabam construindo estereótipos que são difíceis de serem quebrados. Isso vale tanto para questões simples na vida, como aquelas que são capazes de "roubar a dignidade", como ela cita. Histórias muito ouvidas, em geral, por minorias sociais, tais como: se mulher negra e boa de cama; ou, se é gay é afeminado; ou ainda na frase, "ela deve estar de TPM". Vivemos rodeadas de histórias únicas e o "sininho" de alerta que esse livro traz é a importância de não continuarmos reproduzindo todos eles.
Foi um café da manhã, que virou almoço e quase uma janta. Entre muitos papos e troca de experiências pessoais, especialmente aquelas vividas por nós, mulheres, que entendemos o quão é importante esse lugar de conversa. Somo mulheres diversas e cada uma, de alguma maneira, tem histórias únicas que tocam mais.
A consequência da história única é esta: ela rouba a dignidade das pessoas. Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum. Enfatiza como somos diferentes, e não como somos parecidos - Chimamanda
Seguimos com o próximo livro e o próximo encontro. Enfim, esse clube saiu!
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