O grupo cresceu e agora somos sete. A quase autobiografia de Lázaro Ramos foi a forma como as histórias únicas são tangibilizadas.
Por Thaiane Machado

[foto oficial: Ju, Renata, Adriana, Camila, Taís e Alice]
Dia 07/05 foi o segundo encontro. Crescemos de uma forma linda, com mulheres diversas, de experiências únicas. Voltamos nesse mês com a pauta sobre questões raciais, mas olhando para quem sofre na pele. As experiências de Lázaro Ramos, principalmente em sua trajetória profissional, nos fez pensar sobre como o racismo é um câncer em nossa sociedade.
Existe todo um discurso de que não há racismo no Brasil. Afinal, nós fazemos parte de um povo pra lá de miscigenado. Mas quem é negro como eu sabe que a cor é motivo de discriminação diária, sim. - Lázaro Ramos
Lázaro começa o livro contando sobre o seu lugar de nascimento, sua origem, na Ilha de Paty, um distrito de São Francisco do Conde. Baiano, nordestino, pobre, preto e uma série de outras características que faria dele um ninguém nesse Brasil miscigenado, que insiste em afirmar que não existe racismo. Na arte, a grande questão se agrava, uma vez que durante muito tempo as produções brasileiras, em todos os tipos de expressões, nunca se preocuparam com a ideia de representatividade.
Durante anos, nós (me incluo nessa estatística) não nos víamos em telenovela, publicidade, cinema, à frente de programas de sucesso. Até na música, que teoricamente parece um segmento mais plural, o investimento de gravadoras e comerciantes também passa pelo teste da paleta de cores - só lembrar de Wilson Simonal, Elza Soares, Tim Maia (leiam as suas biografias).
Todas as minhas ideias foram rejeitadas. E veio a provocação final: — Por que não falar da sua experiência como ator negro? (...) — Como é fazer um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for... negro? Quando ouço essa última, sempre me dá vontade de responder algo bem esdrúxulo, do tipo: “Não sei, pois nunca fiz um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for... verde”. - Lázaro Ramos
As discussões foram ricas, especialmente pela leitura anterior que nos fala tanto sobre as "histórias únicas". Lázaro poderia só escrever a sua biografia, mas ele prefere falar das suas práticas e vivências que, no fundo, se assemelham as de muitos brasileiros. A leitura é leve e em alguns momento didática - inclusive, ele deixa muitas referencias de leitura para quem quer entender mais sobre esse assunto.
Como diz Leandro Karnal, sobre a sua impressão após a leitura do livro, "O livro é o itinerário de uma consciência. (...) Mais do que uma biografia, é uma trajetória. (...) Parte do texto toca sobre meritocracia. (...) O livro nos obriga a pensar em Lázaro, nos negros, no Brasil, na História, em todos nós, na indústria cultural e nas ideias de justiça".
E foram todas essas questões que nos fizeram pensar.
Na verdade, ainda nos fazem.
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