A história fala da "outra", mas na verdade E.G. Scott nos entrega relacionamentos machocentristas (acabei de criar esse termo!).
Por Thaiane Machado

[foto oficial: Alice, Amanda, Bruna, Camila, Cind, Graci, Imira, Karol, Márcia, Paty, Renata, Taís, Thai e Tetê (part. especial)]
Talvez uma das coisas mais poderosas de "A Outra" seja essa narrativa escrita em quatro mãos. Realmente extraordinário que por trás da assinatura E.G. Scott, estão Elizabeth Keenan e Greg Wands, ela escritora e consultora editorial, ele escreve para publicações impressas, cinema e TV. Ao passo que vamos lendo, entendemos que esse pseudônimo parece dar voz ao casal protagonista, Rebecca e Paul, Elizabeth e Greg, respectivamente. Temos um thriller romance, que nos trás mais que um triângulo amoroso. Poderíamos incluir quase um pentágono, quiçá uma forma sextavada. Não tem linha cronológica, mas sim diversos narradores, em que cada um deles relata passagens da história sob as suas perspectivas de acontecimento e participação nos eventos.
Manter um relacionamento e como andar na corda bamba. Manter um caso é como andar numa corda bamba suja de graxa e com um gorila nas costas [Paul] - E. G. Scott
"A Outra" é sobre o relacionamento de Rebecca e Paul, contada desde quando eles se conheceram (antes), o depois de um fato que muda completamente o casamento e o hoje, momento presente da história. Rebecca é quem puxa o fio da história, ao apresentar-se utilizando o seu trabalho como algo que a definisse: representante de uma farmacêutica - que, apesar de um salário alto, é "convidada a se retirar da empresa" por conta de uso indiscriminado de medicamentos, ou desvio de amostras de remédios controlados. Sem emprego e, de certa maneira, se sentindo presa aos recursos químicos para se manter sã, Rebecca descobre que o seu marido Paul talvez não seja o homem que ela pensava ser. Paul, em outra mão, inicia a história contando sobre o seu momento de vida em que sua empresa faliu e ele se encontra sem emprego e se sentindo sem a dignidade de um homem (provedor, macho etc etc).
Uma rede de mentiras envolve esse casamento: a entrada de uma "outra", a Sheila, que tem um caso com o Paul, justamente nesse momento de fragilidade; as falsas saídas de Rebecca para ir trabalhar (já que ela não conta para o marido que havia sido demitida); o mistério de 9 milhões de dólares sumido da conta conjunta do casal (e descoberto por Rebbeca); o aumento da dependência química de Rebecca e as diversas formas de esconder da sociedade (e de Paul, principalmente); até mortes e investigação policial. Por motivos de spoiler, vou me ater somente a essas descrições da história e passar para um dos pontos do clima quente da nossa discussão.
Todos os segredos foram por ele. Os que eu guardei e os que contei. Todos eles foram necessários para o bem do nosso casamento [Rebecca] - E. G. Scott
A questão do machocentrismo tenta parecer despercebido, mas torna-se claro ao passo que vamos chegando ao final. Diversas mulheres fazem parte desse enredo: Rebecca, esposa há quase 20 anos com o Paul; Sheila, a "outra"; Sasha, esposa de Mark, chefe de Rebecca e ex-namorada de Paul; e outras citadas, como a esposa de Paul da época em que ele conhecei Rebecca (sim, ela foi "a outra"). Todos os acontecimentos, no final das contas, é sobre ele e por ele. É sobre as suas traições, seu egoísmos, suas culpas e frustrações. É sobre quando tudo isso cria consequências desastrosas em todas as mulheres que o rodeia. De outra mão, e pontencilizando essa ideia, a mulher é colocada como aquela mais frágil, a louca, a psicopata - ainda mais, a viciada e que preza pela tranquilidade. no casamento, apesar de ver que ele está escorrendo pelo ralo. Vale a leitura? Sim! Vale! É uma leitura super fluida, ficamos presa nela ao passo que as coisas vão acontecendo, tem viradas bacanas (aquela de dizer, "meu deus!"), outras um pouco óbvia - não espere um suspense tipo Zgatha Christie.
No mais: teve piscina, cerveja e muitas tretas gostosas, como sempre!
Comments